que não me deixa reclamar

que tem criança a vera no ônibus de viagem

que me esfrega sororidade

quando em mim não vem

que me joga a teoria de gênero que eu mesma estudo

na minha cara, bem no meio

porque o critério pra verdade

é a prática e é ela que tem

a fernanda

que me constrange quando cito superinteressante como fonte

que me briga quando sou biologizante

sendo biologia o canudo dela

a fernanda

que é suave e me sente bruta

que é tensa e me senta intensa

que não sabe o que é de mim mas me queer

a fernanda

que se condena quando me castra

que se lamenta quando pensa que me aplastra

a fernanda

adolescente com seu livro

que tem oco da vagina e sexo lésbico

(que ela deixará sem querer um dia

em uma cômoda qualquer pra sua cria)

a fernanda

que não sabia

se seu corpo

me queria

pelo oco

da vagina

a fernanda

que me empareda

com minha falta e falha e fala

e falta de falo

e que vai reclamar e discordar desse verso

a fernanda

com esse nome

tão difícil

“fer não dá”

e eu continuo atrás correndo correndo

que nem eu com minha mãe fazia

minha mãe que queria fazer biologia

que freud parece não tem como errar

fernanda

esse nome

tão difícil

que é o feminino

do meu pai

e o meu próprio

na realidade

em que minha mãe escolheu.

não sou tua homônima, fernanda

mas ela profetizou

quem na tríade seria eu

como ele, amo ela

não como ela, mas

a fernanda

que na poesia

é meu Édipo inteiro

até a parte que recusei.

dizem meus íntimos, fernanda

que se eu poetizo

é que eu me apaixonei