naquele ônibus
voltando do museu em Itaipu
eu tive o primeiro estranhamento da gente

sambando nos buracos da estrada de terra
tivemos tempo
pela primeira vez
e pela primeira vez
não tivemos tema

ficou aquele ar meio constrangido
de quem não tem papo
e eu achei que aquilo significava o fim da faísca
e que você se tornaria só mais uma colega de trabalho

mas acabou que aquele silêncio
diante de 42 crianças gritando
na verdade foi o começo
assim como a primeira conversa,
sobre o aluno impossível, mas que gostava de história
assim como o empréstimo de secador
pra uma recém-desconhecida
assim como o abraço de quando você contou pra mim,
a última pessoa a saber,
que ia embora
assim como a cobrança pela mensagem não respondida
por 15 dias
na pandemia

e hoje, num mundo em que não mais te vejo toda sem-ana
e que todo contato é comunicação
sinto falta
daquela era da vida
em que a gente tinha tempo
até pra não dizer

até pra dizer não